terça-feira, 1 de março de 2011

Cultivo orgânico de tomate



   O tomate (Lycopersicon esculentum) é uma espécie da família botânica das solanáceas, assim como a batata, fumo, pimentão e berinjela. O tomate é de alto valor nutricional, com boa fonte de vitaminas A e C e rico em sais minerais (cálcio e fósforo), essenciais para a formação dos ossos e dentes. Pesquisa realizada sugere que o licopeno, substância em quantidade apreciável no tomate, traz benefícios contra a hiperplasia benigna da próstata (BPH), a qual afeta mais da metade dos homens a partir dos 50 anos. Por ser uma das hortaliças mais consumidas no mundo, especialmente na forma de salada (in natura) e, muito sensível ao ataque de pragas e doenças, é vital o cultivo orgânico de tomate (sem agroquímicos) para garantir a saúde do agricultor, consumidor, meio ambiente e as futuras gerações. Pesquisa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa, com 21 espécies de frutas e hortaliças no Brasil, revelou que, das 3.130 amostras coletadas em 2009, 29% apresentaram resultados insatisfatórios,ou seja,com resíduos de agrotóxicos, especialmente, os não autorizados para a cultura. Dentre as hortaliças, o tomate foi uma das mais contaminadas por agrotóxicos, apresentando 32% das amostras coletadas com resíduos de agrotóxicos. O uso incorreto e excessivo de agrotóxicos aplicados no tomateiro, explica os resultados. Os produtores, para evitar prejuízos parciais ou totais na lavoura, devido as inúmeras doenças e pragas e, condições climáticas desfavoráveis, chegam a pulverizar duas vezes por semana e, o que é pior, não levam em conta a carência dos produtos (tempo mínimo em dias necessário, entre a última pulverização e a colheita e consumo dos frutos). Como as colheitas são feitas duas vezes por semana, a carência ou intervalo de segurança dos agrotóxicos, geralmente de 7 a 10 dias, não é respeitada. As vantagens do cultivo orgânico do tomateiro não param por aí; pesquisa revelou que a qualidade nutritiva dos frutos no cultivo orgânico é maior, produzindo 21,1 e 34,3% a mais de vitamina A e C, respectivamente, em relação ao cultivo convencional, além de serem mais nutritivos e saborosos, com melhor conservação e, ainda com menor custo de produção.
Principais recomendações técnicas
.Escolha correta da área e análise do solo: evitar áreas úmidas de baixada sujeitas à neblina e, já cultivadas com espécies da mesma família botânica (fumo, batata e pimentão) nos últimos anos. 
.Épocas de plantio e cultivares: o clima fresco, seco e alta luminosidade favorecem a cultura. Temperaturas acima de 32 ºC e excesso de chuvas prejudicam a frutificação, com queda acentuada de flores e frutos novos, além de favorecer a murchadeira. No Litoral, a época mais favorável para o plantio é de julho a agosto; a partir de setembro favorecem maior incidência de pragas e doenças no final do ciclo da cultura. Em regiões onde não ocorrem geadas, é possível o plantio no final do verão e início de outono desde que as cultivares sejam rústicas e resistentes às pragas e doenças; neste período, as pulverizações preventivas com calda bordalesa devem ser a cada 7 dias. Pesquisa realizada na Estação Experimental de Urussanga (Epagri), indica para o Litoral: tipo Santa Cruz - cultivar Santa Clara; tipo Cereja – variedades regionais com formato arredondado ou alongado e tipo Italiano - variedades regionais com formato alongado. Recomenda-se para todas estas cultivares, retirar as sementes para o próximo plantio, seguindo-se algumas orientações (ver orientações na matéria já postada neste blog: "produção própria de mudas e sementes orgânicas".
.Produção de mudas: mudas sadias e vigorosas produzidas em abrigos protegidos, garante o sucesso da cultura do tomateiro. O copinho de papel jornal ou copo plástico descartável, utilizados para refrigerantes, são os mais recomendados para produção de mudas de tomate, utilizando-se substratos de boa qualidade. 
.Preparo do solo: adotar o plantio direto ou o cultivo mínimo do solo. Para o cultivo nos meses de julho a agosto, no Litoral, o mais indicado é a semeadura de adubos verdes (aveia, ervilhaca e nabo forrageiro) no outono, isoladamente, ou em consórcio e, a abertura de covas ou sulcos para o plantio das mudas. Outra opção é utilizar milho-verde consorciado com mucuna no mês de dezembro e, a abertura de covas e plantio das mudas no final de março/início de abril (Litoral) ou ainda julho e agosto, sobre a palhada. Pode-se também utilizar as plantas espontâneas como cobertura, manejando-as nas entrelinhas, através de roçadas. As plantas de cobertura protegem o solo, mantêm o solo mais úmido, além de aumentar o teor de matéria orgânica e reciclar nutrientes.
.Adubação de plantio: plantas bem nutridas são mais resistentes às pragas e doenças. Com base na análise do solo e nos teores de nutrientes do adubo orgânico, fazer a recomendação da adubação. 
.Plantio e espaçamento: as mudas são transplantadas quando atingirem 10 a 12cm de altura e com 4 a 5 folhas definitivas. O espaçamento indicado é de 1,2 a 1,5m entre fileiras por 0,4 a 0,5m entre plantas.
.Irrigação: a irrigação por gotejamento é a mais indicada. O sistema de aspersão é contra-indicado para o tomateiro, pois molha as folhas e umedece o ambiente em torno das plantas, favorecendo a requeima. 
.Práticas culturais: a capina é realizada em faixas, mantendo-se limpo a área junto às fileiras de tomate para evitar competição com as plantas espontâneas ou de cobertura. Nas entrelinhas, deixar uma faixa de plantas de cobertura e, se necessário, roçá-las para evitar competição por luz e facilitar a pulverização das folhas baixeiras do tomate. O tutoramento ideal é o vertical e, sempre no sentido norte-sul para permitir maior insolação das plantas.Não recomenda-se o tutoramento tradicional ("V" invertido), pois é formada uma câmara úmida que favorece os fungos e ainda torna os tratamentos fitossanitários ineficientes, pois não atingem a parte interna das plantas. À medida que a planta cresce, é preciso fazer amarrios e desbrotas, semanalmente. Para evitar o ferimento e o estrangulamento do caule, faz-se o amarrio, deixando-se uma folga. A desbrota consiste em eliminar todos os brotos que saem das axilas da plantas, deixando-se uma ou duas hastes por planta; não deve ser realizada com as plantas molhadas, evitando-se a disseminação de doenças. 
.Manejo de doenças e pragas: o tomateiro é o mais atacado por doenças e pragas que causam perdas parciais e até totais da lavoura. No entanto, se forem seguidos os princípios da agricultura orgânica, é possível prevenir e/ou reduzir os danos na lavoura. As principais doenças são: requeima ou sapeco (Phytophthora infestans), pinta preta (Alternaria solani) e murchadeira (Ralstonia solanacearum). As principais pragas são: broca pequena do fruto (Neulocinodes elegantalis) e traça (Tuta absoluta). Para o manejo, recomenda-se as medidas: a) escolha correta da área; b) evitar plantios escalonados e próximos a lavouras velhas; c) plantio na época recomendada; d) uso de cultivares resistentes; e) adubação com base na análise do solo;f) arranquio e destruição de plantas viróticas; g) destruir restos da cultura; h) rotação de culturas; i) pulverizar, preventivamente, a cada 10 dias, com calda bordalesa a 0,5 %,para o manejo das doenças foliares e j) pulverizar preventivamente,a partir do início da frutificação,com Bacillus thuringiensis, produto comercialmente conhecido como dipel, para o manejo da broca pequena do fruto e traça do tomateiro. O consórcio de tomate com coentro (planta repelente) reduz estas pragas e, ainda atrai os inimigos naturais destas. 

.Colheita: a colheita inicia quando os frutos estão amarelados ou rosados. Para mercados mais próximos podem ser colhidos num estádio de maturação mais adiantado, mas ainda bem firmes. A calda bordalesa, embora seja tolerada no cultivo orgânico, possui carência de 7 dias que deve ser respeitada, Para a limpeza dos frutos com resíduos de calda bordalesa, proceder a imersão dos frutos, por 5 minutos, em solução de ácido acético (vinagre), na concentração de 2%. Deixar secar e proceder a embalagem.                                                                                  



Tomate tipo cereja (variedade resistente às pragas e doenças),no tutoramento vertical.













Danos causados pela traça (foto) e broca pequena em frutos de tomate, são reduzidos, quando o tomate é consorciado com coentro.




Figura 1. O cultivo do tomateiro consorciado com coentro, associado com práticas como o tutoramento vertical, uso de cultivares resistentes às pragas e doenças e, especialmente, pulverizações preventivas com calda bordalesa, além de outras práticas, tornam viável técnica e economicamente o cultivo orgânico de tomate e, o melhor, sem riscos ao meio ambiente, produtor e consumidor, com menor custo de produção e, ainda com frutos mais nutritivos e saborosos e com maior conservação.

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