sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Manejo ecológico de insetos-pragas - Parte II



  O Manejo Ecológico de Pragas (MEP), é o sistema que utiliza ao mesmo tempo, várias formas de controle. Além da rotação de culturas e destruição dos restos culturais, recomendações básicas para o manejo ecológico de insetos-pragas, tratadas na matéria postada anteriormente neste blog (Parte I), outras práticas culturais em certas situações, são tão ou mais importantes que as citadas. O objetivo principal do manejo ecológico é não exterminar os insetos-pragas, mas simplesmente mantê-los em determinados níveis de equilíbrio, de forma que não coloque em risco a saúde, os cultivos e o lucro do agricultor. A seguir serão enumeradas as demais práticas que juntas com a rotação de culturas e destruição dos restos culturais, contribuem para o manejo ecológico dos insetos-pragas que atacam as principais hortaliças.


Preparo do solo
    No cultivo orgânico deve-se evitar o revolvimento do solo, mas pode ocorrer situações em que é recomendável. Em casos de ataques anteriores e frequentes de doenças e pragas nos cultivos anteriores, deve-se adotar o preparo adequado do solo para o plantio da cultura seguinte, como medida preventiva. Deve-se revolver muito bem o solo através de uma aração profunda, deixando-os exposto ao sol e às aves predadoras por uns dias. Repetir essa operação e só depois realizar a(s) gradagem. Um bom preparo do solo pode reduzir o ataque de pragas, como a lagarta rosca e paquinhas que atacam várias hortaliças. Isso se deve ao fato de que esses insetos fazem ninhos no solo e o seu revolvimento expõe estas pragas aos inimigos naturais, além de destruir os seus ovos. Um bom preparo do solo no cultivo da batata e um bom chegamento de terra (amontoa) evitam ataques de larvas-alfinete (fase larval da vaquinha) que perfuram e depreciam os tubérculos (Figura 1).
 Figura 1. O preparo adequado do solo, associado à um bom chegamento de terra (amontoa), sem torrões, evita o ataque da larva-alfinete que perfura os tubérculos de batata, depreciando-os (C). Os furos nas batatas ocorre porque a vaquinha (A) - adulto, também chamada de patriota (coloração verde com pontinhos amarelo), ao pôr os ovos na batateira, estes vão cair nas fendas do solo e, se estiver com torrões, os ovos, que darão origem a larva-alfinete (B) – fase larval da vaquinha, irão se alojar junto aos tubérculos em formação no fundo do camalhão.
 Antecipação do plantio e da colheita
   Esta prática é para evitar coincidir a época de maior suscetibilidade da cultura com a época de maior população da praga. A maior ou menor susceptibilidade das plantas em relação às pragas pode variar conforme a época de plantio. Em função disso, pode-se alterar a data de plantio de uma determinada cultura para fugir da época mais favorável ao desenvolvimento de pragas, assim como de seus vetores. O cultivo do tomateiro no outono, por exemplo, é considerado problemático nas regiões litorâneas de Santa Catarina em razão do ataque de vaquinhas, tripes, vírus do vira-cabeça e doenças.Já o cultivo de primavera é mais favorável para o tomateiro devido à menor ocorrência de doenças e pragas.


Irrigação
   Em algumas situações a irrigação pode ser benéfica para a planta e ruim para o inseto, criando condições de menor estresse para a primeira e destruindo o segundo. Para o manejo de pulgões, ácaros e tripes que atacam várias hortaliças, muitas vezes, uma chuva ou mesmo uma irrigação por aspersão pode reduzir a infestação dessas pragas.


Cobertura morta e aplicação de matéria orgânica no solo
   Além dos efeitos favoráveis em relação à diminuição da erosão, manutenção da umidade do solo e redução das plantas espontâneas e outros, a cobertura do solo também pode influir na sobrevivência e disseminação dos insetos-pragas.


Material de propagação sadio e cultivares resistentes
  A escolha de um material de propagação sadio é fundamental para o sucesso de uma cultura. Sendo assim, é importante, sempre que possível, utilizar cultivares resistentes ou materiais propagativos livres de pragas e doenças. A seguir, são citados alguns exemplos de cultivares resistentes às doenças. O tomate do tipo cereja (Figura 2) e do tipo italiano são considerados mais resistentes às pragas e doenças que os tomates de mesa tipo Santa Cruz e tipo Salada. Para prevenir viroses em alface, devem ser plantadas as cultivares Regina, Verônica e Vera. A cultivar de batata-doce Princesa é resistente ao "mal-do-pé", enquanto a Brazlândia Roxa é tolerante aos insetos que causam perfurações nas raízes. A cultivar de vagem Preferido é tolerante à ferrugem e à antracnose, a Favorito tolera a ferrugem e o oídio e a Predileto tolera o vírus do mosaico comum. As cultivares de batata lançadas pela Epagri, Catucha e Cota, são resistentes às doenças da folhagem. Por fim, as cenouras do grupo Brasília são resistentes ao sapeco. A outra opção, não menos importante, é o plantio de materiais sadios. Os micróbios são transmitidos por sementes e outros materiais de propagação. O plantio de ramas de batata-doce sadias é uma opção para evitar a doença "mal do pé", por exemplo.
Figura 2. Tomate cereja é mais resistente às doenças e pragas


Controle mecânico
    Especialmente em pequenas hortas, é muito importante o controle mecânico que consiste na destruição de focos de pragas através da catação manual de larvas, lagartas, insetos adultos e ovos depositados nas folhas das plantas. As lagartas e até ovos depositados pelas borboletas nas folhas de couve (Figura 3), repolho, couve-flor e brócolis, especialmente no início do ataque, quando destruídos, pode reduzir bastante os prejuízos destas pragas nestes cultivos.  
 Figura 3. Os ovos depositados pelas borboletas nas folhas de couve, repolho, couve-flor ou brócolis devem ser destruídos
Uso de armadilhas e plantas atraentes e repelentes
   Armadilhas coloridas ou superfícies adesivas com determinadas cores, por exemplo: amarelo ( atrai vaquinha) e o azul (atrai tripes). Substâncias químicas presentes nas plantas que atraem insetos e com isso podem ser capturados ou mortos. A colocação de sacos de aniagem umedecidos com leite entre os caminhos da horta, no final do dia, para atrair lesmas e caracóis, fazendo-se o recolhimento pela manhã e combatendo-os com cal virgem ou sal é um bom controle ecológico. A abobrinha caserta entre linhas de pepino e outras cucurbitáceas atrai a broca das cucurbitáceas e também as vaquinhas. O tajujá ou cabaça também atrai as vaquinhas, sendo que o sabugueiro atrai os pulgões. As plantas medicinais tais como hortelã, alecrim e sálvia repelem a borboleta da couve, enquanto que a hortelã, arruda e cravo-de-defunto repelem as moscas-brancas. O alho, cebola, capim cidreira, girassol, manjerona e cravo-de-defunto repelem os insetos em geral. Os cultivos de batata-doce, salsa e cenoura repelem as formigas.


Preservação de bosques para servir como abrigo e alimento aos inimigos naturais dos insetos-pragas
   A preservação de bosques, cercas vivas e até capoeiras, próximos da área cultivada é muito importante para servir como abrigo e alimento de inimigos naturais e, até como quebra-ventos. Incluir nas lavouras faixas de adubos verdes e até deixar refúgios de plantas espontâneas ao redor dos cultivos, também contribuem para favorecer os inimigos naturais das pragas que atacam as culturas. Os inimigos naturais são insetos, fungos, bactérias, vírus, nematóides, répteis, aves e mamíferos pequenos. Todas as pragas das culturas têm seus inimigos naturais que as devoram ou destroem. Daí a importância de diversificar os cultivos através da rotação, sucessão e consorciação de culturas, bem como preservar refúgios naturais para manter a diversidade natural da fauna.Todos fazem parte do grande conjunto natural e cada um contribui para manutenção do equilíbrio na natureza.
Entre as espécies de plantas que servem de refúgio contra os inimigos naturais, destacam-se: o menstrato (Ageratum conyzoides), a beldroega (Portulaca oleracea), o caruru (Amaranthus viridis), o nabo forrageiro (Raphanus raphanistrum) e o sorgo granífero (Sorghum bicolor). No caso do sorgo, suas panículas em flor favorecem o abrigo e a reprodução de insetos como percevejo (Orius insidiosus), que é predador de lagartas, ácaros e tripes da cebola. Há, no entanto, plantas que são desfavoráveis à preservação e ao aumento de inimigos naturais das pragas, como mamona,capim, grama-seda, capim-amargoso, guanxuma, tiririca, picão-branco e carrapicho-carneiro.Entre os insetos, os inimigos naturais mais conhecidos são as joaninhas (Figura 4) e as vespinhas que parasitam especialmente pulgões, cochonilhas e lagartas. Outros exemplos de inimigos naturais e os principais depredados ou destruídos são:
percevejos lagartas e seus ovos; moscas – lagartas, seus ovos e outras pragas; coleópteros lagartas e percevejos; louva-a-deus, joaninha e vespinhas pulgões; peixes – larvas de pernilongos; fungos – larvas e nematóides; garças – moluscos e insetos; pica-pau – insetos; tamanduá – formigas e cupins; outros animais que se alimentam de insetos – galinha d'angola,morcegos, lagartas, sapos, rãs, tatus e pássaros (andorinhas, anus, bem-te- vis, corruíras, beija-flores e tesouras).
 Figura 4. Joaninha: o mais conhecido inimigo natural dos pulgões
 Pulverização com produtos alternativos
Plantas saudáveis produzidas em solos com vida e, em ambientes equilibrados, normalmente, não são atacadas por pragas. Substâncias alternativas aos agrotóxicos que são permitidos na agricultura orgânica (cinzas de madeira, calda bordalesa, calda sulfocálcica, biofertilizantes, extratos vegetais, agentes de controle biológicos e outros produtos – ver como prepará-los através de matérias já postadas neste blog), devem ser utilizados somente, quando necessário e, de forma criteriosa, evitando-se o uso sistemático na forma de calendário. O inseticida biológico à base de Bacillus thurigiensis, conhecido comercialmente como Dipel e outros, pode ser usado para manejar, especialmente, lagartas e traças que atacam as brássicas, bem como traças e brocas do tomateiro e, ainda as brocas das cucurbitáceas.

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